Vincent Van Gogh - Semeador
Ser semente é mostrar que, mesmo nas diferenças, podemos TRANSFORMAR ...
Ser semente é TRANSFORMAR o ambiente onde VIVEMOS ou CONVIVEMOS. Ser Semente é deixar-se plantar.
O estudo do texto "Competências na Educação", do professor do Instituto de Psicologia da USP, Lino Macedo, nos faz refletir. Por que um currículo com foco em competências e habilidades? O que diz a legislação? Currículo por competência e habilidade paradigma da LDB 9.393 de 20/dezembro/1996, alterada em 31/julho/2003, artigos 32 e 35.
Competências na Educação
Lino de Macedo
Professor do Instituto de Psicologia da USP
2008
Analisar as significações de competência, quando considerada no contexto escolar, parece inevitável, ao menos por dois motivos. Primeiro, porque é um tema atual, que tem seu valor reconhecido nos referenciais e parâmetros curriculares, bem como em provas e exames coletivos (no ENEM, por exemplo). Segundo, porque, apesar disso, nem todos os educadores reconhecem sua importância e temem que sua ênfase na escola compita com o principal objetivo do ensino (os conteúdos disciplinares). Comecemos, então, por isso: o que são competências? Por que competências na educação básica, hoje? Como articular competências com as principais intenções da escola?
Ao caracterizar o que é competência, sempre gosto de evocar os três aspectos que lhe dão significação: “pedir”; “pedir com” e “pedir contra”. Por que “pedir”? Competência expressa um pedido, isto é, um desejo de realização formulado por alguém, com autoridade e responsabilidade para isso. Pedir, no caso da competência, é o mesmo que desejar. Desejar aquilo que nos desafia para a boa realização da tarefa, que nos propomos a fazer ou cuja produção desejamos compartilhar. Desejar, porque nunca é possível dominar completamente os aspectos ou fatores de sua produção. Há sempre algo para aprender ou regular, algo que depende do outro, das circunstâncias e das vicissitudes de sua realização ou produção. Saber pedir, portanto, transforma o conteúdo de uma realização em uma matéria complexa. A complexidade e o conjunto dos aspectos nos quais devemos nos concentrar são tantos que precisam ser considerados caso a caso. Ademais, o sucesso ou o fracasso de ontem não garantem o sucesso ou o fracasso hoje ou amanhã. Consideremos, também, que pedir combina com repetir, ou seja, pedir de novo aquilo que julgamos essencial para uma experiência. Saber pedir e pedir de novo, de fato, são as condições de todo conhecimento.
Por que desejar com autoridade e responsabilidade? Porque competência supõe um profissional ou pessoa envolvida com algo que vale a pena ser feito, que faz parte de seu projeto, que implica conseqüências para as quais se deve estar atento. Quais os objetivos, propósitos, intenções, disponibilidades daquilo sobre o qual devemos tomar decisões, argumentar, desenvolver, expressar? Se tal critério – desejar com autoridade e responsabilidade – na situação escolar é difícil de ser satisfeito na perspectiva dos professores (que se ressentem da insuficiência de sua formação ou condições de trabalho), mais ainda o é na perspectiva dos alunos. Daí um primeiro paradoxo: na escola é melhor falar de competências ou do desenvolvimento de competências para ensinar ou aprender? De minha parte, sou favorável ao desafio do desenvolvimento de competências, o que coloca o problema de como promover o desejo de aprender e ensinar conteúdos escolares. Nossa intenção é analisar melhor tal questão na segunda parte deste texto.
No que diz respeito à competência, o desafio não é apenas saber pedir, mas de saber fazê-lo junto com pessoas e coisas, no espaço e tempo do que se pretende realizar (aprender ou ensinar, no caso da escola). Junto, no sentido, de que muitos aspectos necessitam ser coordenados e orientados em favor do que se quer obter, com um mínimo de sucesso. Daí a importância de saber mobilizar recursos, cooperar, coordenar pontos de vista, envolver-se e se deixar ser envolvido, transformar em vontade aquilo que começou como uma intenção e que há de terminar como uma boa realização. Isso nos coloca frente a um segundo paradoxo (a ser também examinado na segunda parte deste texto): na escola, professores podem não ensinar e crianças podem não aprender. Ou seja, eles trabalham juntos em favor de um objetivo comum, mas se esse objetivo não é alcançado (como provam, infelizmente, todas as recentes avaliações coletivas), é como se isso não tivesse importância ou maiores conseqüências (as crianças continuam na escola, os professores continuam com seus salários e vantagens do cargo).
Mas, não basta saber pedir e saber fazê-lo junto. Esses dois aspectos são indissociáveis de um terceiro, o da competição, o do pedir contra. Pedir contra, pois vários aspectos rivalizam, competem, dificultam manter um foco. Daí ser necessário fazer escolhas, correr riscos, regular os planos traçados, corrigindo-os em função de algo imprevisto ou decorrente da própria interação dos elementos em jogo. Ser competente implica o desafio de vencer ou compreender algo em um contexto em que vários fatores restringem, dificultam sua realização. Isso nos coloca frente a um terceiro paradoxo. Sabemos quais são os fatores que dificultam o ensino e a aprendizagem escolar, mas convivemos com eles, os suportamos ou os justificamos de muitos modos. Ora, isso acarreta uma contradição fundamental – se a aprendizagem escolar é necessária, então ela tem de se tornar possível, o que implica vencer na prática os obstáculos que impossibilitam sua boa realização.
“Pedir com” e “pedir contra” ao mesmo tempo (o que é possível, pois os aspectos considerados em um e outro são diferentes) pode nos levar, na escola, a falsos problemas. Seja um exemplo disso: desenvolver competências ou ensinar conteúdos escolares? Penso que se trata de um falso problema, mas é comum só podermos relacionar estes dois aspectos de um modo independente (competência e matéria são coisas separadas) ou subordinado (é mais importante ensinar os conteúdos da disciplina, do que as competências dos alunos para aprendê-los). Um dos objetivos deste texto é defender a hipótese de que se concentrar no desenvolvimento de competências não exclui dar atenção – como conteúdo – ao conjunto de disciplinas que compõem certo bloco de conhecimento.
Na consulta ao Dicionário Aurélio Eletrônico, podem-se destacar três significados para competência: “1. faculdade concedida por lei a um funcionário, juiz ou tribunal para apreciar e julgar certos pleitos ou questões; 2. qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo assunto, fazer determinada coisa; capacidade, habilidade, aptidão, idoneidade; e, 3. oposição, conflito, luta.”
Consideremos, do ponto de vista da escola, a idéia de competência como atribuição. A Secretaria de Educação, por exemplo, faz um concurso de seleção de docentes e indica quem tem o direito de ensinar, ou seja, declara-os competentes para isso. Competência implica, pois, um reconhecimento de preferência institucional para realizar tarefas, responsabilizar-se por certas funções. Mas, sabemos que isso é só o começo. E se esse professor julgado competente não cumpre sua função, ou seja, se seu ensino não resulta na aprendizagem de seus alunos? E se ele fica doente, por exemplo, sem condições para continuar dando aulas? Ou seja, trata-se de um conjunto de competências, que os outros nos atribuem ou que nós mesmos mantemos (pelas conseqüências de nossos atos), mas que necessitam permanentemente ser atualizadas. O mesmo acontece com os alunos. Quando uma escola o matricula, aceita, como possibilidade e necessidade, sua condição de aluno; portanto, de alguém que pode e quer aprender. E se ele não aprende? E se a escola não lhe faz sentido? Como sustentar uma atribuição, pelas conseqüências que a justificaram?
Não se diz, até porque seria deselegante, “eu sou competente”. Esse valor é atribuído pelos outros (os pais e a sociedade em geral, no caso da escola) que, em principio, se beneficiaram da competência de alguém para realizar uma tarefa ou resolver um problema (os professores ensinam, os alunos aprendem). Por isso, competência é uma atribuição: alguém, investido de autoridade ou poder para apreciar, espera, reconhece, aprecia no outro alguma coisa, julgada importante. Como fazer para continuar merecedor de uma competência atribuída? As avaliações escolares (tanto as internas a uma escola, como as externas, coletivas) indicam que fazemos jus à competência que se nos atribuiu para ensinar ou aprender? Esse é outro paradoxo: exige-se competência e nos sentimos incompetentes (por exemplo, como alunos, pais, professores, diretores). Somos uma geração marcada pela culpa, ambivalência, medo de fracassar, com dúvidas sobre o que é certo ou errado fazer. Não sabemos lidar com conflitos, disputas, jogos de força. Por exemplo, pai, mãe e avó têm diferentes opiniões sobre uma mesma criança (na perspectiva deles reduzida a um filho, neto ou aluno). Enquanto discutem, sem chegar a um acordo ou permitirem que vença a melhor posição (que pode ser um somatório do que pensam ou sentem os três), a criança vai fazendo – com exigências e mais exigências – as coisas por si mesma. Ou seja, enquanto nos perguntamos se tal decisão é consistente com nosso ponto de vista (que nunca é igual ao do outro), as crianças vão agindo segundo seus modos e interesses.
O diretor, por exemplo, está cada vez mais constrangido a tarefas burocráticas ou administrativas. Lembram-se da escola tradicional? Nela, o diretor tinha uma posição mais importante, do ponto de vista didático ou disciplinar, do que hoje. Naquela escola, bastava ameaçar com um “te mando para a diretoria” que as crianças passavam a se comportar bem. Está certo que pelo medo, pela ameaça (o que nunca é bom). Hoje, se o professor diz “te mando para a diretoria”, em geral isso não surte qualquer efeito, até porque o mais provável é que o diretor não esteja lá. É uma pena que seja assim, pois o diretor é um líder intelectual importante na escola.
Lembro-me de uma pesquisa, defendida como tese de doutorado faz alguns anos. A investigadora, da Fundação Carlos Chagas, escolheu três escolas da Prefeitura de São Paulo nas quais as crianças tiveram boas notas na avaliação coletiva feita pela Secretaria de Educação. Comparou essas escolas com outras três, onde as crianças foram mal na mesma avaliação. Sua pergunta foi: se as condições são comparáveis (mesmo salário, condições de trabalho, contexto social etc.), por que as crianças de uma escola vão melhor que as de outras? O fator diferenciador mais importante nas escolas com crianças bem avaliadas foi o diretor. Nelas, ele era um líder institucional, tinha iniciativa, implicava-se com suas funções, lutava por melhorias. Nas escolas em que as crianças foram mal avaliadas, o diretor era “burocrático”, contido, queixoso, dependente de recursos externos. Em resumo, nas primeiras escolas os diretores eram competentes, nas outras, não.
O mesmo acontece no contexto familiar. Pais e mães muitas vezes se sentem divididos, ambivalentes, angustiados com suas responsabilidades para com os filhos e a gestão do lar. Por motivos de trabalho, por só poderem ficar pouco tempo em casa, sentem-se incompetentes, quando não desinteressados. Em resumo, valorizamos, exigimos competência, mas nos sentimos incompetentes, desajeitados, desqualificados, incapazes de considerar tudo o que deve ser considerado, para algo ser bem feito. Como sermos capazes de tomar decisões em contexto de incerteza, de assumirmos as responsabilidades e as conseqüências de nossos atos? Como assumir que competência não é uma questão de ter ou não ter, mas de desenvolver, aperfeiçoar, aprender com os erros, dispor de boas condições? O professor, por exemplo, espera pelo reconhecimento de sua competência docente, mas ela não se apresenta. Sente-se abandonado, não reconhecido. O aluno, também, busca reconhecimento de seu professor, mas isso não vem, mesmo que na simples forma de uma palavra ou incentivo. Com nosso medo, ambivalência, pressa, angústia, não nos lembramos de fazer isso, não sabemos fazê-lo.
Por que competência é importante? Quanto mais uma sociedade torna-se competitiva, contraditória, cheia de oportunidades e possibilidades, ainda que mal distribuídas, cheia de pressão de tempo para realizarmos as coisas, mais a questão da competência é crucial. Em uma sociedade tradicional, conservadora, por exemplo, os papéis e atribuições sociais estavam definidos. Os destinos e as conseqüências para os que desviavam já estavam estabelecidos. Morava-se, trabalhava-se, casava-se, cuidava-se dos filhos de um modo já sabido, um modo que repetia formas conhecidas e aprovadas naquela sociedade ou cultura. Mas, hoje as coisas são diferentes. Quem garante que daqui a dez anos teremos o mesmo trabalho, estaremos morando na mesma casa, continuaremos casados ou solteiros? Daí a importância de saber trabalhar em contextos de conflitos, de disputa, em que se deve “agir na urgência e decidir na incerteza”.
Competência se relaciona com o reconhecimento do outro, que pode ter inveja ou admiração. Admiramos um professor competente. Se o invejamos, então nossa vontade é estragar seu trabalho, destruí-lo, seja pela fofoca ou sabotagem (consciente ou não). A pessoa competente é espontânea. Seu modo de falar, por exemplo, é comunicativo, fácil, imediato, bom de ser ouvido. A pessoa competente age de modo natural, fluente, espontâneo, sem confusão. Competência é uma realização observável, ainda que sua expressão seja um segredo. Um segredo, pois os procedimentos que a possibilitam não são fáceis de ensinar, nem de serem transferidos de um contexto para outro, ou de uma pessoa para outra. Por isso, competência é algo pessoal, algo que alguém possui, mas que só se explicita (confirmando ou não) no contexto de uma realização.
Habilidades
Uma questão importante é a das relações entre competências e habilidades. Trata-se da mesma coisa, ou seja, uma é sinônima da outra? Já tivemos oportunidade de comentar sobre isso de um modo mais técnico (MACEDO, 2002, 2003 e 2005), mas penso ser importante voltar a esse ponto. Pelo dicionário, para ser competente, devemos ser habilidosos, mas ser habilidoso nem sempre é suficiente para ser competente. Em outras palavras, habilidade faz parte de competência, mas esta exige muitos outros aspectos além daquela.
Habilidade, segundo o dicionário, é um saber fazer, por isso supõe capacidade, inteligência, destreza, engenho, aptidão, astúcia, manha, engenho e arte. Habilidosa é a pessoa que tem capacidade para fazer alguma coisa com perfeição e conhecimento do que executa. Além disso, refere-se à pessoa que é capaz de praticar um ato jurídico conforme os preceitos legais. Habilidosa é a pessoa que age de um modo conveniente, competente. Habilidades são – se posso dizer assim – competências encarnadas nas pessoas (alunos e professores, em nosso caso), nos conhecimentos de autores, pesquisadores e estudiosos que souberam e puderam, pela escrita, corporificar seus conhecimentos como texto, imagem, teoria ou sabedoria de vida.
Habilidade significa fazer algo com qualidade, ter capacidade, inteligência, destreza, astúcia, ter manha. Habilidade é saber ver, ouvir, comunicar. Por exemplo, às vezes, o professor é um bom profissional, mas ele não sabe, não é habilidoso para comunicar o resultado de sua avaliação. O mesmo vale para o diretor, competente, quem sabe, para tomar decisões boas para escola (aí incluídos seu futuro, seus projetos), mas nem sempre habilidoso para comunicar, convencer. A idéia é boa, a decisão é correta, mas o modo como comunica, dá ordens ou instruções, afasta, prejudica. Habilidade significa saber ordenar as prioridades ou necessidades, saber passar as decisões de modo entusiasmado e convincente. Ter habilidade é fazer algo com destreza. Destreza, porque viver não é uma tentativa, mas uma realização que quer ou precisa ser bem sucedida. Não tentamos escovar os dentes, escovamos os dentes. Precisamos saber fazer isso para que eles fiquem limpos, para evitar o surgimento de cáries ou dores. Escovar os dentes é uma habilidade, que desenvolvemos hoje na escola de Educação Infantil. Qual a diferença entre a empregada de uma casa e uma professora ajudar uma criança a escovar os dentes? Na escola se aprende a escovar os dentes como habilidade fundamental de nossa vida, um cuidado com a saúde.
Habilidade é o mesmo que dominar, encarnar um conteúdo, idéia, problema, no corpo, mãos, pernas, cabeça. Graças a isso se pode agir com certa naturalidade, espontaneidade, malícia. Malícia, sim, pois o professor, para comunicar, precisa ter manha, saber achar o melhor jeito, a hora mais indicada para comunicar ou intervir. Como falar para as crianças o que precisam ouvir ou considerar? Como falar para os pais o que precisam valorizar de um jeito que não seja ofensivo? Como não os afastar da escola, incluí-los em seus projetos mais caros?
Habilidade é uma conquista, implica no desenvolvimento de esquemas orais, corporais, mentais, verbais (saber falar, comunicar). Habilidade, por exemplo, para gerenciar o tempo de nossas ações, o espaço de nossas coisas. São habilidades que necessitamos desenvolver, aprender, corrigir, adaptar. Saber ler e escrever são habilidades importantes para muitas disciplinas, ou seja, não é algo específico da língua portuguesa. Em uma sociedade tecnológica como a nossa, por exemplo, saber ler e escrever, cada vez mais é fundamental. Quem não sabe escrever, mesmo que minimamente, tem muitas dificuldades para arrumar um bom emprego.
Habilidade é uma expressão de competência, mas esta não se reduz àquela. Ou seja, para ser competente, temos de ter várias habilidades, mas nossa competência não se resume a um somatório de habilidades. Existe algo que é maior, de ordem mais geral, relacionado à arte. Por exemplo, medicina não é uma disciplina ou conjunto de disciplinas, é uma arte de curar, prevenir, cuidar. As ciências que lhe servem de base – por exemplo, fisiologia e anatomia – não bastam para ser um bom médico. Para ser competente devemos ser habilidosos, mas isso não é suficiente para sermos competentes.
Por exemplo, não ser conveniente na sala de aula ou escola incomoda muito os professores. O que é ser inconveniente? É, por exemplo, não saber escovar os dentes no lugar adequado. É bom escovar os dentes na cozinha ou sala? Habilidade é fazer algo necessário, mas de modo conveniente, adequado, elegante. Conversar, tudo bem, mas não em qualquer hora. Quando o professor fala ou explica, a habilidade em jogo é saber escutar, fazer anotações. Ou seja, não é que falar em sala de aula seja ruim em si mesmo, sua adequação depende do contexto que o autoriza, que lhe dá sentido. Por isso, é importante saber discriminar. Fazer ou não fazer algo é conveniente? Saber se algo é bom ou ruim requer considerar o contexto, considerar a ação na perspectiva de suas relações com outros fatores.
Nem sempre sabemos trabalhar a questão da conveniência em sala de aula. Nossos alunos e nós mesmos não sabemos nos comportar do melhor modo em sala de aula. Conversamos na hora errada e quando é para falar, ficamos quietos, contidos. Se for para criticar, não criticamos. Se não for para criticar, criticamos. Habilidade é a arte de ser competente e, por extensão, bem sucedido. Ao contrário, o que sobra é insatisfação, queixa, certo sentimento de insucesso.
Os profissionais da escola ficam mais tempo com as crianças, hoje, do que os pais, parentes ou vizinhos. Por isso, a escola é um lugar privilegiado, apesar de todas as suas dificuldades, para desenvolver competências e habilidades. Essas, além de sua importância específica para a aprendizagem escolar, preparam os alunos para a vida em geral. Habilidades, é bom lembrar, possibilitam-nos fazer as coisas de um modo leve, gostoso, lúdico, sem que se precise ficar tomando remédio, ficar se matando, enlouquecido. Como aprender a fazer isso no cotidiano da escola, com graça, leveza, alegria, responsabilidade?
Parte II: Competências na educação
O objetivo da segunda parte deste capítulo é analisar nossa questão principal: o que são competências na educação? Serão feitos dois tipos de comentários. O primeiro, apoiado em “Aprender, sim... mas como?”, consistirá na análise da tese de Meirieu (1998): o professor é um profissional da aprendizagem. Em outras palavras, é para isso que deve ser competente. O segundo consistirá na proposição de quatro perfis de um professor competente: 1) mestre / educador, 2) docente, 3) gestor de conflitos e interesses, e 4) orientador.
Professor: Um profissional da aprendizagem
O desafio para a competência docente, como anunciamos, pode ser sintetizado em três grandes paradoxos pedagógicos. Primeiro, valorizar a relação educador – educando, com a condição de incluir o desejo de saber, isto é, o valor do objeto a ser aprendido ou ensinado (MEIRIEU, 1998). A possibilidade dessa inclusão decorre de o professor aprender a ser um bom mediador, em suas três expressões: mediação pelo ritual, projeto e produto (avaliação). Segundo, valorizar a relação educador – conteúdos a ensinar, com a condição de incluir o educando nesse processo. Para isso, o professor deve saber desenvolver competências de aprendizagem no aluno, articulando, assim, objetivos e conteúdos de ensino com as condições metodológicas de sua assimilação. Terceiro, valorizar a relação educando – conteúdos e procedimentos a aprender, com a condição de o professor, ele mesmo, não se excluir deste processo. A competência requerida para isso, segundo Meirieu (1998 e 2005), é o professor saber propor boas estratégias de aprendizagem. Para este autor, isso implica trabalhar bem com situações-problema.
Como anunciamos na primeira parte deste texto, o primeiro paradoxo se relaciona com a idéia de competência como um pedido, que se faz ou que alguém nos faz e que aceitamos como um desafio de realização. O segundo paradoxo corresponde ao desafio de ser competente com, ou seja, não basta o professor saber bem os conteúdos a ensinar, ter clareza dos objetivos de sua prática pedagógica, se não conseguir desenvolver, nos alunos, as competências de que eles necessitam para essa assimilação. Em outras palavras, para ensinar é necessário aprender com, junto com os alunos, levando em conta as metodologias e os procedimentos que eles dispõem ou de que precisam dispor para isso. O terceiro paradoxo corresponde ao desafio de ser competente contra, ou seja, valorizar o aprender, ao invés do ensinar. Expressa o desafio de o professor, pouco a pouco, saber deixar o aluno com os objetos a serem aprendidos, saber se incluir neste processo, renunciando à sua função maior, a de ensinar. Ou seja, a competência agora é saber formular boas perguntas, o que contraria a visão de um professor especialista em boas respostas. Como dissemos, aprender a ensinar com boas perguntas supõe dominar a estratégia de saber gerir e gerar situações-problema.
Em resumo, ser um profissional da aprendizagem, expressando ou desenvolvendo competências para isso, implica articular a relação professor – aluno com o desejo de saber (saber pedir), coordenar objetivos e conteúdos a ensinar com competências transversais ou metodológicas dos alunos (pedir com), e criar situações de aprendizagem que possibilitem uma relação do educando com os objetos a serem aprendidos, ao custo de não se excluir deste processo, mas renunciando a uma posição de especialista ou “dono” de um saber (pedir contra). Em uma palavra, espera-se que professor saiba gerir e gerar aprendizagens.
GERIR / GERAR APRENDIZAGENS
Minha proposta, apoiado em Meirieu (1998), então, é que o professor seja um profissional competente para gerir e gerar aprendizagens, nele mesmo (em um contexto de formação) e em seus alunos (em um contexto de sala de aula, curricular ou extracurricular). Para isso, há de considerar o triângulo pedagógico: educador, educando, objeto a ser aprendido e a ser ensinado. Em nossa análise, daremos ênfase aos três lados desse triângulo: a) relação educador – educando; b) relação educador – conteúdos a ensinar (disciplinas); c) relação educando – objeto a ser aprendido e a ser ensinado.
Relação educador – educando
O desafio de pensar a relação educador – educando é não excluir o terceiro elemento do triângulo pedagógico: o objeto a ser aprendido ou a ser ensinado. Uma relação educador – educando, qualquer que seja ela, não pode encerrar-se em si mesma, excluindo o que justifica a vida da escola, ou seja, o objeto a ser aprendido e a ser ensinado. Pensar o professor como um profissional da aprendizagem implica, pois sabê-lo como alguém competente para mediar as relações de seus alunos com aquilo que justifica sua presença, hoje obrigatória, na escola.
Meirieu (1998) propõe três formas de mediação: pelo ritual (espaço, tempo, tarefas), projeto (atividades orientadas para um objetivo ou realização), produto ou avaliação.
A mediação pelo ritual implica a arte de criar um cotidiano na sala de aula favorável à aprendizagem. Ritual é o que se repete no espaço e no tempo, mas com um sentido ou significação para aquele que dele participa. O ritual permite-nos identificar momentos importantes de uma comemoração, de uma realização que vale a pena ser repetida como forma, pois sempre se trata de outro dia, de algo que nunca é o mesmo. Graças ao ritual, professor e alunos deixam de se implicar um com (ou contra) o outro, mas juntos dedicam-se àquilo que justifica seu encontro (aprender, ensinar). Os conteúdos aprendidos, os modos de aprender variam, modificam-se, mas transitam pelo mesmo ritual. Pelo ritual, aprendemos a pedir, a pedir de novo (repetir), aprendemos a desejar aquilo que nos falta para nossa condição humana. No livro “Ensaios pedagógicos” (MACEDO, 2005) pudemos, no capítulo 9, indicar os aspectos que compõem o cotidiano da sala de aula, que caracterizam, pois, o ritual da aprendizagem escolar.
A mediação pelo projeto implica que o professor, como mestre, tem competência para transformar o desejo de saber em uma realização para o aluno. Como analisamos em outra obra (MACHADO e MACEDO, 2006), projetos organizam nosso presente em favor de um futuro, de uma realização. Aprender e ensinar são os dois maiores e melhores projetos da escola. Neles, professores e alunos, bem como todos os outros profissionais dessa instituição, pedem juntos uma mesma coisa: que os alunos aprendam, que os professores tenham uma melhor condição para isso. Em um contexto de projeto, a relação educador – educando se coloca a serviço de uma realização na qual ambos têm tarefas (diferentes, irredutíveis, complementares, indissociáveis) a desempenhar. No contexto de um projeto, as relações de indiferença, ódio, amor, admiração hão de ser traduzidas em um motivo de realização.
A mediação pelo produto (ou avaliação) nos lembra que há um tempo de aprender e um tempo de mostrar o que se aprendeu, há um tempo de produzir e um tempo para desfrutar ou aplicar em outros contextos os produtos desta aquisição. A relação educador – educando tem, pois, um tempo para terminar. Podemos ver a avaliação dos produtos da escola como algo que opera contra, que compete, pois sabemos que a aprendizagem é sempre contínua, que uma boa relação pede para ser mantida. Um professor com qualidades de mestre sabe fazer as mediações em favor de algo que vai terminar e que precisa terminar com o compromisso de que aquilo que justificou a relação tenha sido bem assimilado.
Relação educador – conteúdos a ensinar: Como desenvolver competências para aprender?
A complexidade do processo didático, as exigências institucionais para o bom cumprimento do programa (em termos dos objetivos esperados, do tempo previsto e dos conteúdos a transmitir), as expectativas sociais (da família, do estado e da sociedade em geral), as exigências de preparação das aulas, correção das tarefas e provas etc. freqüentemente acarretam um problema. Ocupado pelos conteúdos a ensinar, o professor não pode, não sabe, não tem como desenvolver em seus alunos as competências necessárias ao aprender. Cria-se, assim, esse terrível paradoxo: os esforços de transmissão de conteúdo não resultam em aprendizagem. Por essa razão, comenta-se tanto, atualmente, sobre a importância do desenvolvimento de competências de estudo no aluno. Bernard Rey (2002), em “As competências transversais em questão”, analisa com profundidade esse problema.
De fato, desenvolver disciplina de estudo, saber prestar atenção, concentrar-se, saber tomar notas, dominar diferentes procedimentos de leitura e escrita conforme os objetivos e segundo as características do material analisado, ouvir as aulas, fazer as lições de casa, estudar para as provas, saber debater um tema em sala de aula, compartilhar tomadas de decisão, enfrentar situações-problema, ser tolerante, respeitoso, amoroso com os colegas, professores e objetos de estudo etc., são procedimentos ou atitudes que o aluno deve desenvolver, mesmo que pouco a pouco, em favor de seu sucesso escolar. Onde, quando, com quem, como aprender esses procedimentos ou formas de relação? Se eles são supostos, como é comum, pré-requisitos ao bom desempenho escolar, em que tempo e lugar os alunos podem aprendê-los? Supor que isso ocorre em casa, na série anterior ou por um esforço pessoal e “espontâneo” do aluno é exigir demais, é não reconhecer as características ou condições de nossa vida na sociedade atual.
Por isso, penso que o problema se coloca assim: o desafio didático para uma escola que se quer para todas as crianças e jovens (MACEDO, 2005) é saber transmitir-lhes objetivos e conteúdos de ensino de um modo interdependente ao desenvolvimento dos recursos ou procedimentos para essa assimilação. O que e para que ensinar não podem mais ser considerados independentes do como e porque aprender. Dominar conteúdos implica desenvolver as competências para sua aquisição. Não saber ou poder fazer isso desqualifica o professor como um profissional da aprendizagem. Gera esse terrível paradoxo: o professor ocupado com os objetivos e os conteúdos de sua disciplina exclui os alunos, que não têm recursos para sua aprendizagem (infelizmente, a maioria na escola atual). Uma das possibilidades de alteração deste quadro é a hipótese deste livro: vale a pena desenvolver competências de ensino nos professores, vale a pena desenvolver competências de aprendizagem nos alunos.
Relação educando – conteúdos e procedimentos a aprender e o terceiro excluído (o professor)
Analisemos, para concluir essa parte do texto, o problema do professor como terceiro excluído, quando se trata da relação aluno – conteúdos e procedimentos a aprender. Como comentamos, a proposta de Meirieu (1998) é instigante: saber propor situações-problema é um modo de o professor se conduzir como um profissional da aprendizagem; dominar estratégias de aprendizagem (a situação-problema é a preferida dele) é um modo dele estar presente na relação educando – conteúdo a ser aprendido. Graças a isso ele pode coordenar seu lugar tradicional e importante – transmissor de boas respostas – com essa nova função, igualmente fundamental – propositor de boas perguntas e desencadeador das condições para um percurso de aprendizagem de seus alunos.
Já escrevemos sobre situação-problema (MACEDO, 2002), mas vale a pena retomá-la, ainda que brevemente. Para Meirieu (1998), situação-problema é uma “situação didática na qual se propõe ao sujeito uma tarefa que ele não pode realizar sem efetuar uma aprendizagem precisa. Esta aprendizagem, que constitui o verdadeiro objetivo da situação-problema, se dá ao vencer o obstáculo na realização da tarefa. Assim, a produção supõe a aquisição, uma e outra devendo ser objeto de avaliações distintas” (p. 192). Em outras palavras, trata-se de fazer uma pergunta, propor uma tarefa, desencadear uma discussão em que, para dar conta do que foi solicitado, será necessário pesquisar, informar e ser informado, pensar mais, discutir, enfrentar problemas, tomar decisões, relatar etc. Em uma palavra, será necessário aprender.
Astolfi (em Perrenoud, 2000, p. 42-43) apresenta dez indicadores para uma boa situação-problema:
1. O obstáculo a ser resolvido está bem identificado?
2. O problema está bem proposto? Isso foi feito de um modo concreto, que possibilita a formulação de hipóteses ou conjecturas sobre os modos de enfrentá-lo?
3. O problema é um problema para quem vai resolvê-lo, ou seja, os alunos entenderam, aceitaram o caráter de desafio, de pergunta que vale a pena ser respondida?
5. Trata-se de um problema que se responde fácil e rapidamente, ou, ao contrário, reclama discussões, formulação de novas idéias?
6. A solução é possível para os alunos que estão enfrentando o problema?
7. Enfrentar a situação-problema é sentido como importante para os alunos, os resultados advindos interessam, são antecipáveis?
8. A situação-problema requer debates, discussões, necessidade de tomar decisões?
9. Os resultados ou soluções encontrados ou propostos se relacionam com o problema proposto, isto é, operam como um término, ainda que provisório, do que se queria investigar ou conhecer?
10. A situação-problema, além do que mobilizou em cada aluno, teve um valor coletivo, serviu como uma reflexão ou aprendizagem para a classe ou grupo?
Felizmente, hoje, há muitas experiências pedagógicas em que o raciocínio da situação-problema foi utilizado, de modo bem sucedido, como estratégia de aprendizagem.
Quatro perfis de um professor competente
Nos últimos anos tenho tido a oportunidade de fazer palestras em que posso analisar, ao meu modo, perfis de um professor competente na escola atual. Penso que eles podem ser pelo menos quatro. Os dois primeiros correspondem às antigas e eternas funções de um professor: a de educador ou mestre, que serve de referência, queira ou não, para seus alunos, bem como a do docente, aquele profissional que se responsabiliza pela transmissão dos conteúdos disciplinares. Os dois perfis seguintes são novos, ao menos na expectativa que hoje temos dos professores: a de gestor de conflitos de interesses e a de orientador.
Em verdade, fui tentado, ao escrever este texto, a juntar a primeira análise (inspirada na proposta de Meireu) com a segunda (a dos perfis). Preferi, depois, mantê-las separadas, por mais que veja um forte vínculo entre elas. De fato, supomos que a relação educador – educando corresponde ao que aqui designamos como perfil 1 (educador / mestre); a relação educador – conteúdos a ensinar corresponde ao perfil 2 (docente); e, a relação educando – objeto a ser aprendido corresponde ao perfil 3 (orientador). O perfil 4, gestor de conflitos e interesses, em verdade, comparece em todas as relações e marca o grande desafio da escola atual: conservar suas eternas funções, levando em conta as características atuais dos modos como as pessoas se relacionam entre si e com seus objetos de conhecimento.
1. Educador / Mestre
Educador (cf. Houaiss)
Aquele que educa. Educação: ação de criar, de nutrir; cultura, cultivo. Ato ou processo de educar(-se). Aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano; pedagogia, didática, ensino. Desenvolvimento metódico de uma faculdade, de um órgão. Conhecimento e observação da vida social; civilidade, delicadeza, cortesia.
Ser educador é uma função requerida para todos os professores e não apenas para os da escola de Educação Infantil. O que é ser educador? Educar é ter o compromisso de cultivar, “plantar”, cuidar de e “colher” os frutos de nosso trabalho. Graças a eles, uma criança se torna pouco a pouco membro de uma comunidade. Educar alguém é torná-la dócil, no sentido de convertida pouco a pouco a uma língua, a certos modos de agir e de pensar, a certa cultura. Educar é aprender a se tornar parte, assumindo as responsabilidades que isso implica. Ao nascer, a criança está aberta para as muitas possibilidades de ser, mas a educação filtra, côa, coage, conforma-a a certos modos de pensar e agir.
Educar é moldar, modelar. É gravar, inscrever no sentido de tatuar no corpo, cabeça, gestos, valores aquilo que caracteriza nossa cultura ou sociedade, nossos valores, nossa religião, nossa forma de pensar e agir. Por exemplo, crianças adotadas pouco a pouco vão ficando parecidas com seus pais de criação. Graças ao trabalho da educação, nos tornamos membros de uma cultura.
Qual a diferença entre a criança fazer as mesmas coisas (brincar, comer, fazer xixi ou cocô, desenhar) em casa ou na escola? A diferença é que estas práticas cotidianas, tão fundamentais, na escola têm uma função educacional e, em casa, podem não ter (ou seja, valem apenas como atividades de limpeza ou lazer). Hoje, ser educado implica desenvolver muitas competências e habilidades. Neste caso, competência refere-se à possibilidade de aprender a gerir a própria saúde e outros cuidados pessoais. Às vezes, uma educadora faz o mesmo trabalho que uma mãe ou empregada doméstica. Mas, no caso da professora, tais atividades são meios para outro fim. Nem todas as mães, hoje, têm condição ou tempo para isso. O mesmo vale para suas substitutas, em casa. As atividades são as mesmas, mas o sentido, a direção, aquilo que estas atividades permitem construir têm outra natureza. É importante que o educador infantil reconheça isso.
Hoje, o professor, o diretor, os funcionários da escola são pessoas muito importantes para as crianças. Em comparação aos pais e outros responsáveis por sua formação, são eles que passam, quem sabe, mais tempo do dia junto com elas, observando-as, dando-lhes instruções. Quantas crianças hoje podem ficar, ao longo da semana e no correr de cada dia, quatro horas com seus pais? Muitos deles saem de casa bem cedo e só voltam à noite. Quanto tempo eles dispõem ao longo do dia para seus filhos? Recorrer ao celular ajuda, mas não substitui a presença. Mesmo à noite, alguns chegando em casa ainda devem lavar louça, roupa, preparar comida e completar tarefas relacionadas ao seu trabalho profissional.
Não é só o professor a pessoa mais presente para a criança, ao longo do dia. Em casa, a tendência é que os atores (ou personagens equivalentes) sejam também uma “presença” muito freqüente. Há crianças que ficam três ou quatro horas vendo televisão. Suas referências, neste caso, são o que fazem, como se expressam, os exemplos que os atores dão no contexto de seus papéis ou histórias (incluindo-se, aí, os desenhos animados). Voltando aos professores: gostando ou não, querendo ou não, é com eles que as crianças convivem, compartilham momentos importantes de seu cotidiano. A empregada doméstica, quando há uma, por melhores que sejam seus esforços, nem sempre pode substituir os pais, nem sempre pode ter mais influência que a televisão ou o professor.
Como assumir esta tarefa tão difícil e fundamental de ser referência para alguém, que observa o modo como você age, seu tom de voz, sua educação, a doçura ou azedume de seu jeito de ser, seu compromisso profissional, sua responsabilidade? Como aceitar essa função de um modo leve, gostoso, não neurótico ou compulsivo? A competência do professor, como mestre, é importante, porque significa que ele ensina não apenas um conteúdo particular, mas um modo de administrar as coisas, uma posição diante do mundo, transmite valores.
É uma competência bonita, ser referência para alunos. Quantos professores querem, aceitam, suportam isso? O fato é que, desejando ou não, a criança nos toma como referência. Como trabalhar seus aspectos positivos ou negativos em favor de nossos interesses profissionais (ensinar, formar, transmitir valores, desenvolver competências)? Ser referência pode ser difícil, pois exige certo cuidado, não em seu sentido pesado, mas comprometido. Quais são as conseqüências de se comportar de certo jeito na frente dos alunos?
Ouço falar de certos casos, por exemplo, na escola de Educação Infantil, que são muito criticáveis. Há alunos que batem na professora, tocam-lhe indevidamente em certas partes do corpo. Espere aí! O corpo é da professora! Vamos devagar! Penso não ser educativo permitir que as crianças se comportem de modo tão desrespeitoso. O professor tem de dar licença, autorizar. Mas, a culpa não é também das crianças. Se são inadequadas, confundidas, indisciplinadas, isso apenas indica ou nos lembra mais uma vez a importância da educação (em casa ou na escola).
Hoje, estudar na escola é um direito de todas as crianças. É um dever dos pais e do estado dar-lhes as condições para isso. Trata-se de uma mudança radical, com a qual todos estão de acordo, pelo menos como um direito, como um bem ou necessidade social. Mas o que fazer se, na prática, a aprendizagem não acontece, a vida escolar não é possível? Se as crianças se comportam de modo desinteressado, indiferente, inapetente? Se não apresentam recursos mínimos para o processo de aprendizagem? Se os recursos pedagógicos do professor ou a infra-estrutura da escola não são suficientes para isso?
Não basta criar leis que obriguem as crianças a freqüentarem a escola, se seus recursos para aprender nela são insuficientes, se a escola não tem condições de lhes ensinar ou de suprir ainda que minimamente suas faltas. Como se relacionar na escola com crianças mal-vestidas, malcheirosas, famintas, ignorantes, violentadas e violentadoras, agressivas, agredidas, desinteressadas e indiferentes?
Pensemos também no oposto, pois os desafios são os mesmos. Há crianças que vêm para a escola transferindo para ela as ricas condições ou exigências de sua casa. Crianças manhosas, vaidosas, cheias de querer, que vêem o professor como mais um empregado de seus pais, que se colocam como superiores a ele, que reduzem tudo a uma questão de poder de compra, de possuir bens. Como ser professor dessas crianças? Como lhes instigar o gosto e o valor do conhecimento, do saber escolar? Como introduzi-las na cultura da escola?
Competência se refere à função maior da escola, que é a de preparar para a vida, para a vida lá fora, para a vida de sempre, para a vida de ontem, de hoje e amanhã. Competências e habilidades têm uma função educacional muito importante. A escola, hoje, é o melhor lugar para elas serem desenvolvidas na multiplicidade de suas funções. Constatamos cada vez mais que a praça da matriz, a rua, o fundo do quintal e o próprio interior da casa não são espaços que possibilitam experiências suficientemente favoráveis ao desenvolvimento de competências e habilidades.
Uma competência eterna do professor e hoje em dia muito importante é a do professor como mestre. Para se tornar um mestre, é necessário aceitar o discente como discípulo. Aceitar e aperfeiçoar sua condição de referência importante para o discípulo. Tornar-se um eterno estudante, isto é, um pesquisador sensível aos valores éticos. Reconhecer e valorizar o lugar da escola para as crianças na sociedade de hoje. Diferenciar-se do sentido de mestre de ontem.
2. Docente
O que faz profissão de, o que se dedica a, o que cultiva; professor de, mestre. Declarar perante um magistrado, manifestar-se, prometer, protestar, obrigar-se, confessar, mostrar, dar a conhecer, ensinar, ser professor. Aquele cuja profissão é dar aulas em escola, colégio ou universidade; docente, mestre. Aquele que tem diploma de algum curso que forma professores (como o normal, alguns cursos universitários, o curso de licenciatura etc.)
Professor é quem aceitar, nos termos em que hoje isso é proposto, o discente como um aluno, que precisa aprender e dominar certos conhecimentos. É quem se compromete profissionalmente com sua profissão. É quem ensina técnicas, habilidades. Ser professor é uma profissão, não é apenas uma ocupação. Professor é aquele que jurou, comprometeu-se perante uma instituição, um diretor, ensinar seus alunos. Por isso, nossa competência caracteriza-se como uma profissão da aprendizagem.
Uma das funções do professor é a de transmitir conhecimentos e informações. Há coisas importantes a serem mantidas, preservadas, como história, valores, técnicas, explicações. Como fazer isso, considerando a complexidade do mundo de hoje? A forma tradicional de ensinar, mesmo que reconhecida, hoje não é mais suficiente para cumprir as antigas e novas funções da escola. Daí o sentimento de incompetência de muitos professores e diretores. Chamo de tradicional a condição segundo a qual quem entra na escola deve aprender e respeitar as regras de convivência escolar e dominar os conhecimentos e procedimentos que ela ensina. Se isso não acontece conforme os critérios de avaliação do professor ou da escola, a criança é reprovada ou então excluída.
Desejar aprender na escola e ter condições sociais, físicas, neurológicas e cognitivas para isso eram as condições.
Consideremos, apenas como um exemplo, a relação da criança com os livros ou o livro didático: uma ferramenta fundamental ao processo de ensino e aprendizagem. Muitas crianças não têm livro em sua casa. Às vezes, o único livro que tem lá não pode ser riscado, estragado, pois se trata de um livro sagrado. Livros para as crianças deveriam poder ser manuseados com a mesma permissão que elas têm para se relacionar com seus brinquedos. Aliás, para as crianças, livros são como brinquedos e brincadeiras são o que elas fazem com eles. Livros são para lamber, riscar, rasgar, abrir, fechar, desenhar, e eventualmente, mas pouco a pouco e cada vez mais, para ler, para descobrir os segredos contidos nele. Crianças pequenas necessitam desta possibilidade de assimilarem os livros como lhes convém, como sabem ou gostam de fazer com seus objetos ou brinquedos.
Há crianças cujos pais não têm livros em casa ou não cultivam o hábito da leitura porque não sabem ler ou não têm dinheiro para comprá-los. Esses pais, por suposto, sabem da importância da leitura, do valor que há em saber ler, mas não têm condições para prover seus filhos desses objetos. Temos também o caso oposto, mas igualmente prejudicial. Crianças que observam no dia-a-dia seus pais lendo, crianças que possuem, que ganham livros e livros, mas que não têm o menor interesse neles.
Um dos desafios do professor, hoje, é ensinar técnicas – de leitura, escrita, cálculo – na perspectiva do desenvolvimento de competência. Ou seja, ensinar técnicas ou saberes em ação, mas aplicados em um contexto de situações-problema, de tomadas de decisão. Uma coisa é saber matemática, como um conteúdo disciplinar. Outra é saber esta disciplina para calcular o mundo como geometria, cálculo de probabilidades, algoritmo, algo que implica raciocínio, resolução de problemas, tomada de decisões.
A principal demanda que se faz aos professores é que ensinem conteúdos disciplinares (História, Geografia, Língua Portuguesa, Matemática, Artes). Mesmo verificando na prática a importância de competências e habilidades para os alunos assimilarem esses conhecimentos, há uma dificuldade para se coordenar (no sentido de diferenciar e integrar) esses dois aspectos complementares (competência e disciplina).
Suponho que um dos motivos para essa dificuldade diz respeito ao lugar dos meios e fins nas duas situações. Nas disciplinas, os conteúdos são a finalidade dos interesses de estudo e as competências e habilidades são os meios. No desenvolvimento das competências, os conteúdos são o meio e elas, o fim. Como inverter essa relação?
Consideremos, em favor desta mudança de posição, que o aprendido na escola como conteúdo acaba sendo esquecido ou substituído por outros conteúdos. Mas as formas de aprender, isto é, as competências e habilidades, se bem desenvolvidas, transferem-se para a vida lá fora e justificam, assim, a importância insubstituível da escola na sociedade atual. Por exemplo, podemos esquecer o que lemos, mas não o próprio saber ler ou saber buscar (e reler) o texto, se ele foi bem estabelecido.
Saber cuidar da saúde pessoal e da saúde dos filhos é uma competência. Se não o fizermos bem, quem o fará por nos? Administrar o salário, sabendo quão baixo ele é para a maioria das pessoas, é uma competência cada vez mais importante. Como distribuir o dinheiro que recebemos a cada fim de mês, semana ou tarefa realizada, considerando todas as nossas necessidades de consumo (alimento, roupa, transporte, medicamentos etc.)?
3. Orientador
Quais são as competências requeridas para um professor orientador? Proponho que elas são pelo menos cinco. Primeiro, que ele tenha a intenção permanente de tornar o aluno um estudante, ou seja, alguém que desenvolva uma relação pessoal, direta e intensa com os objetos de conhecimento. Proponho uma distinção entre aluno (aquele que estuda no contexto de uma escola, que recebe uma formação básica ou profissional sob os cuidados de seus professores) e estudante (literalmente, aquele que estuda). Eternos estudantes, se a escola nos marcou para sempre, é o que todos nos tornaremos. Para isso, devemos construir autonomia de estudo. Segundo, o professor orientador, por suposto, deve saber conduzir projetos de pesquisa, situações de jogos ou experiências que tenham valor de pesquisa. Terceiro, isso implica aprender a fazer perguntas e a definir um caminho ou método para respondê-las. Ou seja, um professor orientador domina competências metodológicas. Por último, o professor orientador valoriza a escrita como forma privilegiada de comunicação. Por que escrita? Porque quem faz pesquisa e não as relata, não as comunica de forma impressa (possível de ser lida, vista ou ouvida de um modo permanente), é como se não a tivesse feito. Os professores falam, os pesquisadores escrevem. Ser orientador é saber marcar a necessidade de escrever o que se aprendeu no contexto de uma investigação como algo fundamental.
Hoje, os professores necessitam possuir ou desenvolver competência metodológica. Orientar projetos, aprender a fazer boas perguntas e, mais que isso, convencer os alunos de que elas são boas, são domínios fundamentais. Não por acaso, valoriza-se hoje a prática de projetos em sala de aula.
Considere-se, por exemplo, o projeto de visitar uma feira, preparar e se alimentar dos produtos ali adquiridos. Tal atividade exige muita orientação. Há de se envolver a família (conseguir, por exemplo, recursos para as compras a serem feitas, pedir autorização e comunicar aos pais que se trata de uma atividade extra-escolar), há de se alterar e articular esta atividade com a rotina da escola. O que fazer? O que comprar? Como escolher e valorizar as frutas, verduras e hortaliças a serem compradas? Quanto tempo ficar na feira? Como preparar e consumir os produtos adquiridos? Conversar sobre seu valor nutricional, lavar, preparar a mesa, comer, mastigar bem os alimentos etc., são partes deste projeto. Não por acaso, crianças que resistem em comer, por exemplo, alface em suas casas o fazem de bom grado na escola, se isso fez parte de um contexto que se tornou importante para elas.
Ser orientador supõe um conjunto de competências diferentes daquelas requeridas para outras funções docentes. Qual é a mais difícil de todas elas? Penso que a de saber propor ou compartilhar projetos.
Como Nilson José Machado tem ensinado, os projetos são pessoais, as pessoas é que têm projetos, não podemos ter projetos pelos outros. O professor orientador transforma as atividades e os interesses ou experiências de seus alunos em perguntas, que valem a pena ser respondidas. Mais que isso, ele sabe devolver para eles as perguntas como projetos que os alunos agora assumem como seus. Mas, mesmo sendo das crianças, o professor não abandona sua participação. É triste aquele quadro, apesar de comum na sala de aula, de um professor corrigindo provas, conversando com colegas, enquanto os alunos dedicam-se a suas tarefas ou projetos sentindo falta da participação dos professores.
Saber propor e justificar boas perguntas, favorecer as condições para a produção de suas respostas, compartilhar e ser, quem sabe, co-autor da busca de informações, relato e comunicação do que foi obtido são tarefas fundamentais de um professor orientador.
Quem faz o bolo são as crianças e não os professores. São elas também que depois vão comer o bolo, experimentar e desfrutar os efeitos de sua produção. Uma coisa é comer um bolo da merendeira, no contexto de um lanche normal. Outra coisa é fazer um bolo e experimentá-lo no contexto de um projeto.
4. Gestor de conflitos e interesses
Uma competência didática fundamental hoje é a do professor como gestor de conflitos e interesses. Como tornar o discente competente e habilidoso na gestão de seu cotidiano pessoal e escolar? Como atuar como “juiz” ou organizador de debates e construção / reconstrução de combinados coletivos? Como atuar como coordenador de discussões e resoluções de conflitos humanos?
Como administrar conflitos? Conflitos, pois não basta uma tarefa – a ser realizada pela criança – ser boa ou necessária para ela, em nossa perspectiva. Como convencê-la disso? E se ela não quiser fazer ou quiser fazer de um modo diferente (em outro tempo ou lugar, por exemplo) ou inadequado? Conflito de interesses, pois, por exemplo, o pai quer isso, a mãe quer aquilo, a avó quer outra coisa sobre a mesma criança. Daí, por exemplo, a importância das assembléias de classe, da produção coletiva de combinados ou regras de convivência em sala de aula ou na escola.
Competência gestora, saber coordenar uma discussão, ou seja, favorecer a expressão e produção de argumentos, idéias ou sugestões sobre um dado problema. Coordenar e valorizar o momento de concluir, tomar decisões e cumprir o que foi decidido. Regular o processo de implementação das medidas, que não devem ser esquecidas ou desconsideradas. Valorizar as correções que se fizerem necessárias. A lista de tarefas implicadas na competência gestora é grande e importante. Como ensinar democracia na escola, não só para seu bom funcionamento, mas também como uma preparação dos alunos para a vida lá fora, regida por decisões políticas e coletivas, que necessitam ser cumpridas e aperfeiçoadas?
Ser gestor é desenvolver a capacidade de gerenciar a economia das coisas. O que significa isso? Economia como arte de regular o que é da ordem do excesso ou escassez. O que precisa ser pensado em termos de seu muito, pouco, suficiente, agora sim, agora não. Por exemplo, uma criança tem vontade de jogar futebol, assistir à televisão e tem necessidade de estudar, realizando essas três atividades em um período de três horas. Como regular os tempos e os espaços dessas realizações?
Como administramos nosso salário? Como o distribuímos ao longo do mês, segundo interesses, critérios, responsabilidades (compromissos já assumidos, por exemplo) que podem variar muito? A quantidade de dinheiro é a mesma, só que o gestor competente, jeitosamente, habilidosamente, coordena, no sentido de que sua economia, sua gestão do que falta, do que sobra, ganhe uma condição mínima para ser realizada.
Um aspecto importante a ser levado em conta nesse assunto de gestão é que às vezes pequenas decisões ou formas discretas de organização das coisas têm grandes efeitos. Às vezes, grandes decisões ou imposições não têm qualquer efeito. Às vezes, o importante é ficar em silêncio, mudar o tom de voz, dizer muito obrigado, olhar no olho. São pequenas atitudes ou formas de ser ou estar com o outro que têm um grande efeito.
Ter capacidade de gestão, por exemplo, é saber como pai e mãe reunir esforços e interesses comuns em favor da educação de um filho. Como deixar de usar a educação do filho como mais uma disputa de poder? Por que professores não podem se dar as mãos em torno de um projeto que envolve a escola e assim saírem de sua solidão, de sua dificuldade ou impossibilidade de participar de um projeto comum?
Um exemplo de conflito, na educação atual, que demanda uma reflexão e capacidade de gestão é aquele proposto no (falso) dilema: a escola cultiva o culto ou a cultura? O professor de ontem tinha obrigação de ser culto; o de hoje, além disso, tem de se comprometer com a cultura. Ainda que culto e cultura tenham a mesma origem etimológica, ganharam uma significação diferente. Cultos alguns são, cultura todos temos. Esperava-se do professor de ontem, por exemplo, que fosse culto, respeitável; uma pessoa capaz de impor condições e limites, com poder de reprovar ou excluir os alunos que o desobedecessem ou não cumprissem as regras estabelecidas por ele. Espera-se do professor de hoje que saiba criar uma cultura na sala de aula, construir com os alunos combinados e modos de convivência, que valorize as diferenças, que saiba manter na escola o aluno que quer ir embora, que não se relaciona bem com ela, que não aprende, que não interage com seus colegas. Ser culto implica dominar um saber específico, diferenciado. Ser bem sucedido em uma cultura implica desenvolver competências e habilidades necessárias para se tornar parte dela.
A escola de hoje ainda está aprisionada ao culto, valoriza a cultura no discurso, mas na prática tem saudade dele. Como modificar, de fato, esta imagem ou representação de escola ou de professor? Como aprender a reconhecer, observar, apreciar e se implicar nessa nova realidade? A própria idéia de formação contínua tem a ver com isso. Um professor culto dá conta suficientemente de suas necessidades de ensino. Qual professor pode dizer isso sobre si mesmo? Quem não se sente despreparado, insuficiente, incompleto? Valorizar a formação contínua dos professores, aprender a trocar pontos de vista, discutir e decidir sobre questões comuns faz parte da nova cultura de uma escola que se quer para todas as crianças. Daí a importância de, no espaço e tempo da escola, hoje, aprendermos a desenvolver projetos envolvendo a família e a comunidade de nossos alunos. Daí a importância, quem sabe, de estabelecer um horário complementar para a realização de oficinas, criando um espaço no qual valores e interesses da cultura das crianças possam ser articulados com os conteúdos escolares a serem aprendidos.
A necessidade de formação continuada do professor coincide, não por acaso, com a demanda de que se torne um profissional da aprendizagem. Na escola tradicional, a obrigação do professor não se colocava nesses termos, mesmo que ensinar sempre tenha sido e continue sendo o maior compromisso de um professor. De um lado, porque competência era um pré-requisito, algo que o professor deveria ter. Era considerado imprescindível que o professor fosse culto, que dominasse sua matéria, que desse conta da gestão da sala de aula, que tivesse autoridade para isso. De outro lado, as crianças que não conseguiam aprender eram excluídas ou reprovadas. Hoje a formação contínua é considerada importante, não porque o professor seja desqualificado para sua função, mas porque ensinar tornou-se uma tarefa complexa. A formação docente não pode ser entendida como um pré-requisito, uma tarefa solitária, individual. A responsabilidade da escola com a sociedade como um todo é, hoje, muito maior, mais complexa.
Valorizo certas práticas hoje comuns em muitas escolas: selecionar alguns casos que se repetem e cuja solução escapa ao professor, porque lhe faltam recursos para seu enfrentamento, porque o problema tem uma complexidade maior do que sua possibilidade de enfrentá-lo. Por exemplo, pode se tratar de um problema de dificuldade de aprendizagem, inapetência para o estudo, indiferença na relação professor – aluno, roubo, violência etc. Como escolher e caracterizar problemas realmente importantes e colocá-los em discussão em uma assembléia de professores ou alunos?
A escola tem hoje um lugar social muito importante. Se tivéssemos de escolher uma invenção na história recente da humanidade, um fato novo realmente importante, esse seria o advento da escola como instituição fundamental para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças.
A escola tradicional, talvez falando de um modo caricatural, submetia a criança ao projeto dos adultos, por mais importante que ele fosse, porque os alunos da escola tradicional tinham o conceito de que a criança precisava aprender a ler e escrever, desenvolver movimentos e, se ela não fosse disciplinada, escaparia dos conceitos. Se hoje a escola é para todos, se toda criança tem direito à escola, precisamos considerar na cultura da escola, hoje, o cotidiano da escola, a vida da escola e, sobretudo, a escola da educação infantil, aquilo que faz as perspectivas da criança, não só as perspectivas do adulto. E o que faz sentido, pois se uma criança escuta uma história bem contada, pode não entender sob o ponto de vista racional, mas se gosta da estória, se atribui um significado, vai querer ouvir bilhões de vezes. Se o professor, o pai ou mãe tiverem a arte de contar histórias, de desenvolver, ela não só topa, ela quer.
As crianças, por exemplo, ao longo de uma viagem de duas horas, podem querer ficar ouvindo uma mesma canção, incansáveis, renovando seu encanto por ela a cada repetição. O mesmo acontece com um jogo ou brincadeira.
Arte é uma relação com o que é agradável aos olhos, ouvidos, coração, que nos toca de algum jeito, que faz pensar. É uma experiência que nos atravessa de algum modo, por ser agradável, e por ser agradável a gente quer mais... De novo! É neste tipo de agradável, que nos atravessa de alguma forma, que podemos criar um momento de aprendizagem, de cultivar, organizar, assimilar, desenvolver certa estética, certa educação.
Como comunicar para a criança algo de valor? Como lhe proporcionar uma experiência que vale a pena ser vivida? Em nosso caso, recorremos ao jogo (MACEDO, PETTY e PASSOS, 1998, 2000 e 2005), a brincadeiras e desafios, porque eles favorecem a proposição de situações-problema que fazem sentido para as crianças, porque criam um contexto de diálogo, possibilitam fazer comparações, observar diferenças, fazer críticas, articular as coisas, aprender a perder ou ganhar, saber esperar, conviver com regras e entender seu sentido em função do todo, ter objetivos, ter projetos. Sendo um bom gestor, o educador pode desencadear na criança o gosto pela matéria, pode fazê-la se interessar pelo jogo do conhecimento, pela linguagem da arte, música, dança, teatro, convivência social.
Parte III: Competências e valores
O objetivo da terceira parte deste texto é refletir sobre a relação entre competências e valores no âmbito educacional. Para isso, vou recorrer ao fabuloso desenvolvimento tecnológico atual, as competências que o possibilitaram, bem como os valores e interesses que lhes deram sustento. Será que eles se aplicam do mesmo modo no plano educacional? Quais as conseqüências da competência tecnológica e dos valores que a justificaram para o futuro da humanidade, para a sobrevivência de outros seres vivos e de nosso próprio planeta? Por que desenvolver competências na educação implica assumir os valores que as justificam?
Como comentamos, competência é um tema controvertido. Há colegas que reagem a ele de um modo agressivo ou preconceituoso. Eles têm razão. Consideremos uma crítica comum atribuída ao valor das competências tecnológicas, por exemplo, no século 20. A serviço de quem ou do quê elas foram desenvolvidas? Quais as conseqüências para todos nós, para a vida na terra, para a própria terra?
O século passado caracterizou-se por duas grandes guerras, por uma política voltada aos interesses de dominação, imposição de crenças filosóficas e, sobretudo, pela revolução tecnológica, sustentada pelo progresso científico. Consideremos, como novidade, o que ocorreu no mundo dos transportes, das descobertas de doenças, invenção de remédios, recursos para análise clinica, invenção do computador. Que valores, visão de mundo e apreço pelas conseqüências sustentaram essas inovações? Por que, por exemplo, isso não evitou, aliás incrementou, a doença, a falta de comida e miséria para tantas pessoas, a necessidade de emigrar, as dificuldades de comunicação, o sofrimento dos seres humanos?
Insistamos nesse ponto: nos últimos cem anos, graças ao progresso científico e tecnológico, pudemos dispor da aviação, do computador, de grandes remédios, da produção em massa e racional. No campo dos alimentos, por exemplo, isso chegou a um ponto em que hoje não nos falta comida, apesar de sermos mais de seis bilhões de pessoas. O que faltam são recursos de distribuição, de poder de compra e de interesses de consumo. Considere-se que, em outros tempos, o problema era ter necessidades ou problemas e não dispor dos meios para sua solução ou enfrentamento. Mas hoje o desenvolvimento tecnológico é tal e tão rápido que mal dominamos os procedimentos de manipulação do celular, por exemplo, e já dispomos de uma nova versão, com recursos e solução de problemas que nem imaginávamos existir. Se antes o “homo faber” labutava para resolver problemas criados a partir de suas necessidades práticas de vida, hoje este homem inventa problemas e interesses de consumo antes deles surgirem. Como articular as características da sociedade de hoje (tecnológica, globalizada, de consumo, do conhecimento e da informação) com a questão das competências requeridas para uma vida bem sucedida e os valores que as tornam possíveis? Para reiterar a questão, como combater o mal e desfrutar o bem nos termos em que hoje eles se expressam?
Será que nos servem, na escola, os valores que animaram e justificaram o desenvolvimento de competências no século 20? Valores de produção, de consumo, do lucro, da substituição do trabalho humano pelo das máquinas, da formalização dos contatos entre as pessoas? Penso que não. Mas, se o passado não volta e se o desenvolvimento tecnológico nos favorece em muitos pontos (e, portanto, é desejável), como se beneficiar de seus aspectos positivos e corrigir os negativos? O que ensinar e praticar na escola a esse respeito? Como criticar o que não vale a pena, o que se perdeu, o que foi transformado, quem sabe, para pior? Como, ao mesmo tempo, desfrutar das vantagens do progresso científico e tecnológico, desenvolver e valorizar na educação as competências requeridas para sua utilização e possibilidades de acesso?
Consideremos que certos países e as pessoas que os dirigem, hoje, dominam tecnologias que podem destruir a Terra. Há pessoas – nós mesmos em muitos pontos – que têm o poder de fazer qualquer coisa, sem se importar com as conseqüências de seus atos. Graças à tecnologia, as máquinas fazem – mais barato e melhor – tarefas que antes só nós podíamos fazer. A conseqüência, para o dono das máquinas, ou para quem pode alugá-las, é muito conveniente. E para os trabalhadores que perderam seus serviços e que não sabem como substituí-los por outros? Se é nesse tipo de sociedade e cultura que vivemos, que as crianças e jovens vivem, como educá-los para se tornarem responsáveis por seus atos? Penso que a responsabilidade (no sentido de se pensar na conseqüência de nossas ações, de um modo ético e comprometido) é um dos principais valores a ser desenvolvido em uma perspectiva educacional. Como educar para a responsabilidade? O que significa desenvolver essa competência? Quais as habilidades e as interações requeridas para isso? Como pensar as competências para ensinar, sabendo que isso precisa ser inscrito feito tatuagem que se “esfrega, lava e não sai”?
Faz certo tempo, li o livro “As paixões e os interesses no capitalismo primitivo”. Paixão e doença têm a mesma etimologia (patos). Referem-se, apesar de suas diferenças, a estarmos atravessados por certa questão que nos domina, nos envolve sem podermos pensar ou agir de outra forma. O doente só pensa em seu sofrimento, na necessidade de se recuperar, em se livrar da dor. O apaixonado só tem tempo e cuidados para os objetos de sua paixão. Um jovem drogado só sabe pensar na necessidade (química, física, social) de repetir o “prazer” ou alívio que a droga lhe traz, em obter os recursos (não importa por que meios) para mais uma dose. A paixão (convertida em necessidade) de todos nós, em uma sociedade do consumo, tecnológica, cheia de ofertas de máquinas cada vez mais sofisticadas de produção e gozo, é poder dispor desses recursos. Só pensamos nisso. Trabalhamos mais só para isso, nos “matamos”. Ser ou tornar-se competente para alimentar os objetos de nossa paixão, de forma não crítica, vale a pena?
O interesse, ao contrário da paixão, se relaciona ao poder argumentar, interagir, defender, justificar e se responsabilizar pelo objeto ou pessoas que o mobilizam. Interesse pede razão, descentração, entregar-se ao melhor ponto de vista, coordenar espaço e tempo, renunciar, perder, ganhar, desenvolver vontade, pensar no coletivo. Requer desenvolvimento de competências e habilidades que valem a pena.
Um apaixonado “rouba”, se necessário, o objeto de sua paixão. Um interessado o negocia, estabelece trocas e, em princípio, aceita que elas devam ser vantajosas para os dois lados. Como converter as paixões de hoje em interesse, amor, cuidado, paz, e responsabilidade? Como desenvolver em nossos alunos o interesse pelo estudo, pela aprendizagem das disciplinas, das competências e habilidades requeridas para sua assimilação? Como trocar nossa condição de apaixonados e incompetentes, pela condição de amorosos e cuidadosos? Como transformar paixão em amor, prevenção, saúde, um futuro melhor para todos?
O que desejamos com nossos relacionamentos, trabalho, estudo ou modo de vida? Que habilidades ou competências correspondem ou possibilitam a realização de nossos desejos, principais intentos ou projetos? Tais questões implicam certa reflexão entre ser, ter e se tornar. Considerar a relação entre competências e valores solicita um repensar os sentidos destes verbos, nos termos em que eles se formulam, hoje.
Ser sempre foi nossa questão. O que ser? Como ser? Para alguns, ser significa ter, possuir, dominar, controlar, acumular. Ser na medida em que se tem mais e mais. O incômodo de muitos de nós com o tema das competências deve-se ao fato de que freqüentemente ele compreende ser enquanto saber ter, poder ter. Qual é o custo disso, se considerarmos a humanidade, a natureza, a Terra como um todo?
O que me encanta, ao contrário, quando pensamos o valor do desenvolvimento de competências e habilidades no âmbito educacional é que ser, agora, corresponde a um tornar-se que vale a pena. Tornar-se parte da sociedade, tornar-se alfabetizado, poder realizar as intenções (escritural e racional) da escola, tornar-se preparado para o mundo do trabalho, para a vida em geral. Mas para isso, temos de – o tempo todo – refletir sobre a questão: ao serviço do quê ou de quem desenvolvemos habilidades e competências na escola?
Considerar o ser como tornar-se (e não ter) é importante na escola. É para isso que ela existe. Para antecipar, instruir, transmitir, hoje, aquilo que as crianças hão de precisar mais tarde, quando se tornarem adultas, quando forem nos substituir (espera-se, para melhor). Considerar o ser como tornar-se pede uma reflexão sobre as relações entre presente, passado e futuro.
Presente, passado e futuro na escola são instâncias do tempo muito interessantes. Nela, o passado é fundamental. Os professores ensinam conhecimentos constituídos (pelo desenvolvimento científico, por saberes acumulados e valorizados na cultura). O professor é o responsável pela transmissão de um saber acumulado. Simultaneamente, se pensamos naquilo que queremos que os alunos se tornem, o professor é o preparador, é o responsável pelo futuro. O que alunos devem aprender? Que competências devem desenvolver? O que necessitam se tornar? Mas, futuro e passado hão de dialogar com o presente, representado pelos alunos no momento atual de seu processo de desenvolvimento, de sua forma e condições de vida. Presente, representado pelas condições de trabalho do professor, dos recursos disponíveis na escola. Presente pelo cotidiano da sala de aula e por tudo que acontece, positiva ou negativamente, em favor deste projeto coletivo (ensinar e aprender), mas que há de ser reconstruído, caso a caso. É uma pena que o hoje da escola freqüentemente se identifique com indiferença, inapetência, chatice, incompetência, inconveniência. Como manter, preservar o passado que não podemos esquecer no presente da escola? Como antecipar o futuro, tornando os alunos pouco a pouco competentes, preparados para as grandes tarefas que lhes reservamos?
De fato, é muito difícil valorizar essa compreensão de competência em uma sociedade como a nossa. Uma sociedade “cheia” de conhecimentos, globalizada, informatizada, tecnológica e consumista. Hoje, ser ou se sentir incompetente, pobre, analfabeto, custa muito caro, não dá lucro, não vende tecnologias. É quase uma ironia que tenhamos precisado dos interesses mais sofisticados do capitalismo para reconhecer o valor da educação. Como reconhecer, na escola, os perigos do desenvolvimento de competências a serviço de coisas que não valem a pena? Como transformar essa direção, devolvendo à escola sua condição política, ética, de preparar criticamente as crianças para uma sociedade que se quer melhor, mais justa, mais preparada para desfrutar e se manter merecedora dos benefícios de nossa condição humana?
Considerações Finais
Chegamos ao final de mais um texto sobre assunto tão importante e complexo. Como desenvolver em nossos alunos as competências que eles necessitam no mundo de hoje? Como um professor pode agir em sala de aula em favor desta direção, recorrendo aos conteúdos disciplinares, ou seja, ao projeto pedagógico e ao currículo proposto? Como ele pode atuar como um profissional da aprendizagem e, portanto, valorizar em sua formação aspectos que corroboram para isso?
Por mais exaustivo que possa parecer, preferimos começar o texto com uma análise conceitual do que são competências e habilidades, destacando os pontos que nos pareceram fundamentais para a segunda parte. Nesta, assumimos a proposta de Meirieu (1998, 2005) de que o professor é um profissional da aprendizagem e, como tal, deve fazer convergir todos os seus esforços pedagógicos e disciplinares. Reconhecer-se como profissional da aprendizagem é um convite para romper com as representações atuais de professor de crianças ou de disciplinas e aceitar o desafio de ser alguém que sabe – e quer – dentro de certos limites (pessoais, institucionais) promover o desenvolvimento de competências em seus alunos. Fazê-lo, isto é, agir como um profissional da aprendizagem, implica compreender a tríade na qual se encerra, como mínimo, a função pedagógica. Um primeiro lado desta tríade caracteriza-se por uma relação professor – alunos que tece o sentido da atividade de aprender com alguém competente para isso. Essa relação afetiva, cultural, social e cognitiva está a serviço daquilo que a justifica na escola – o desenvolvimento de competências por intermédio da aprendizagem dos conteúdos disciplinares e valores que as justificam. Um segundo lado caracteriza-se pela relação didática, propriamente dita, cuja metodologia e intencionalidade curricular estão comprometidas com um ensino ou educação básica para todas as crianças. O terceiro lado valoriza a relação do aluno com o próprio conhecimento, com as condições de sua produção e com a disciplina (agora no sentido de certo modo de agir para aprender) para isso requerida. Desenvolvimento de competências, aprendizagem de conteúdos disciplinares e aquisição de valores são as resultantes deste trabalho, quando esses aspectos podem ser considerados de um modo interdependente e construtivo, isto é, não excludente.
Como se tornar um professor competente na escola de hoje (MEIRIEU, 2005; MACEDO, 2005)? Propusemos quatro perfis, ou seja, características que poderiam ser valorizadas na formação e atuação do professor que pretende agir como um profissional da aprendizagem. Os perfis analisados foram os de: educador / mestre, docente, orientador e gestor de conflitos e interesses. O que tínhamos em mente nesta proposta, dentre outras coisas? Consideramos que esses perfis poderiam favorecer três funções discentes – complementares / indissociáveis / irredutíveis – que qualificam o sentido de aprender. A primeira função é aprendermos com alguém. Isso implica reconhecer alguém como mestre ou educador e aceitar ou querer, por conseqüência, ser seu discípulo, aprender com ele. A segunda função é aprendermos alguma coisa. Isso supõe o reconhecimento de que somos ignorantes, não dominamos certas técnicas ou conhecimentos e que a escola pode e deve nos prover deste ensino. Para isso, ela necessita dispor de bons docentes ou orientadores. A terceira função é que aprendemos mais e melhor se desenvolvemos competências de estudo, se aprendemos a gerir conflitos e interesses e desenvolvemos o gosto pelo auto-aperfeiçoamento e pela busca incessante por sempre saber mais. Se isso acontecer, quem sabe então o Estado, por meio da Escola e de seus Profissionais da Aprendizagem, terá cumprido sua missão.
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